sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Análise de Dark Souls - Jogo para Espartano



Dark Souls
Com o passar do tempo, os jogos como nós os conhecíamos começaram a ficar gradualmente mais fáceis e acessíveis, as vidas deixaram de existir, os inimigos começaram a ficar mais fáceis e os jogos começaram a ter modosVery Easy. Felizmente ainda há quem resista a todos estes facilitismos e tente ser um osso duro de roer, numa era em que morrer num videojogo significa apenas ter de esperar por umLoading.

Um dos grandes exemplos dessa corrente foi Demon's Souls, um jogo criado pela From Software em exclusivo para a PS3, no qual, o jogador via-se a cargo com o objectivo tudo menos fácil, de salvar um reino entregue à miséria, caos, peste e criaturas saídas dos confins dos vossos pesadelos.
Embora grande parte dos jogadores não acreditassem queDemon's Souls fosse vingar, a verdade é que muitos quiseram resistir ao ambiente opressivo e muitas horas de frustração.

Assim, surgiu um novo sucesso e foi criado um sucessor espiritual para Demon's SoulsDark Souls, um novo jogo notoriamente mais aberto à exploração e mais acessível a nível de jogabilidade, mas ainda mais difícil e impiedoso no seu âmago.
Tudo isto são promessas de Dark Souls, mas valerá a pena passar por mais um tormento?

Após criarem a vossa personagem (já falaremos mais pormenorizadamente disto), Dark Souls coloca-vos num dos calabouços do Undead Asylum, uma prisão preparada para albergar os mortos vivos até ao fim dos tempos.
Vocês são apenas mais um dos muitos mortos vivos enclausurados nesta zona decrépita, mas o destino muda drasticamente quando um guerreiro lança um corpo para dentro da vossa cela, e nas vestes deste, encontram a chave da vossa porta.

Claro que em Dark Souls nada é uma vitória, e assim que abandonam a cela, é fácil imaginar que muitos preferiam ficar dentro desta até ao fim dos dias.

O "passeio" feito pelo Undead Asylum serve um pouco como um tutorial de como é jogar Dark Souls. Pelo caminho, vão apanhar o primeiro escudo, a primeira arma, perceber como se ataca, como se defende, como podem equipar as armas e os objectos, correr, rebolar, usar as armas com uma ou duas mãos, etc. Tudo isto é explicado através das muitas marcas deixadas pelo chão, que podem ser feitas pelo jogo em si, ou por outros seres humanos através do modo online.

A jogabilidade que vão encontrar depende em muito da personalização que fazem à vossa personagem. Embora seja possível jogar com um homem ou mulher e mudar o aspecto visual em alguns parâmetros, a vossa classe é que vai definir tudo o resto, havendo estilos que vão doWarrior (Guerreiro) normal, passando pelo Sorcerer (Feiticeiro) típico, e outras classes mais ágeis, sem esquecer o Thief (Ladrão) e o Ranger (Arqueiro). 

Cada uma destas classes é jogada de formas ligeiramente diferentes e como seria de prever, têm valores ligeiramente diferentes nas suas estatísticas, o que vai influenciar o estilo de combate e as armas que podem e devem usar.

Quando acabam por sair doUndead Asylum em direcção à mítica terra de Lordran, percebem que a From Softwaredeixou para trás a zona de umLobby ao estilo do Nexus deDemon's Souls, no qual podiam comprar magias, armas, evoluir a personagem e aceder às diferentes zonas do mundo.
Em Dark Souls, a exploração é feita de uma forma diferente. Aqui, vão encontrar um mundo aberto, que podem percorrer de diversas formas e por caminhos bem diversos.
Embora o objectivo seja praticamente o mesmo, existem várias formas de o atingir, e podem sempre contar com uma forte oposição, ao bom e velho estilo de bosses gigantescos ou grandes vagas de inimigos.

Embora tenha vários cenários para explorar, a progressão é ajudada gradualmente através deBonefires, fogueiras colocadas em determinadas zonas do mapa, as quais permitem que recuperem vida, evoluam a vossa personagem ou voltem à vida após terem sido derrotados, entre outras mais-valias. 

A vida é algo essencial em Dark Souls e vão aprender a utilizar humanidade por várias vezes, a qual permite que “tomem forma humana”, fiquem mais fortes e tenham um aumento significativo nas vossas estatísticas, porém, caso acabem por morrer, o processo é revertido e regressam à vossa forma putrefacta.

De resto, praticamente tudo o que é feito em Dark Souls requer o uso das muito desejadas Souls. Souls é algo que abunda neste universo, mas podem acabar por perdê-las tão depressa como as ganham. Quando encontram uma alma abandonada, ou cada vez que matam um inimigo, este liberta uma quantidade de Souls (ou certos itens), no entanto, quando vocês acabam por sucumbir, também as vossas almas ficam perto do local da morte, e só conseguem recupera-las, se voltarem ao mesmo lugar sem morrer, por isso cada movimento tem de ser bem medido e cada Soul bem aproveitada.

Isto seria tudo muito mais simples e fácil se Dark Souls não fosse brutalmente difícil. A quantidade de vezes que vão acabar por morrer são totalmente absurdas, seja contra um boss que surge na sala seguinte e vos mata em dois golpes, ou através de um inimigo que vos apanha numa emboscada quando a vossa vida já está a menos de meio.
A pressa é inimiga da perfeição e este é um daqueles jogos que castiga de forma cruel e fria todos aqueles que forem descuidados ou arrisquem mais do que devem. Por isso, preparem-se para morrer vezes sem conta, mesmo depois de várias horas de experiência.

Embora não seja difícil de se jogar, Dark Souls é um jogo que exige muita paciência, dedicação e horas incontáveis de esforço. Existe sempre alguma espécie de estratégia ideal para derrubar um inimigo, e na maior parte das vezes, podem usar uma parte do cenário para ganhar vantagem sobre um boss, mas por mais que aprendam e joguem, este é o jogo que exige que estudem o inimigo, percebam as suas fraquezas e ataquem na altura exacta, mesmo que para isso tenham de morrer várias vezes.

Como já deu para perceber, vão morrer por diversas vezes ao longo da aventura, mas isso não quer dizer que não tenham algum tipo de ajuda ao longo desta demanda. Não estou a falar necessariamente dos NPC's, que acabam também por ser tão obscuros como o universo que os rodeia, mas sim de outros jogadores que podem convidar a entrar no vosso mundo, como auxílio para matar um inimigo mais forte. Porém, isto também pode resultar no inverso e um jogador pode sempre invadir o nosso mundo com o objectivo de vos matar e roubar alguma humanidade para si, pode ser algo injusto para alguns, mas também é uma forma interessante de interacção entre os jogadores que pode ter desfechos algo inesperados para ambas as partes.

Embora percorra um caminho muito próprio dentro do seu género e tome decisões algo diferentes do que é comum, Dark Souls não está isento de pequenos erros, defeitos ou omissões que podiam fazer dele um jogo bastante melhor. Para começar, os NPC's são normalmente demasiado vagos e poucas ou nenhumas vezes tem algo de importante para nos contar, o que transforma Dark Souls num jogo de procura ao estilo "take a wild guess" tal como nos RPG's à moda antiga. A isto podem juntar um tutorial que cobre os básicos, mas que podia ser mais "amigável" a início, antes de nos atirar de imediato para a boca dos lobos.

Por fim, e embora tenha um visual impressionante, as personagens continuam a não ter direito a movimentos labiais quando falam, ou movimentos "bem articulados", ao contrário dos que acontece com os bosses, que se movem de forma bem mais credível.

Relativamente ao compêndio visual, Dark Souls está muito melhor do que Demon's Souls, com texturas muito mais polidas e limpas, cenários deslumbrantes e massivos e alguns dos inimigos mais impressionantes e imponentes que já vimos nesta geração. Claro que não existe como fugir à presença de inúmeros bugs, especialmente no que toca à colisão entre personagem ou com o cenário.



Algo a ter em conta é também todo o trabalho depositado no que toca à construção do mundo. Todo o mundo de Lordran é realmente majestoso, embora sejam poucos os locais onde existem coisas "agradáveis" para ver, afinal estamos a falar de um mais um mundo desolado e com uma aura terrivelmente opressiva, o que faz aumentar a desconfiança e o clima de tensão. 
Vão sentir sempre que existe uma armadilha ou inimigo ao espreitar da esquina, e a pressão é tanta que não será de estranhar que se sintam por vezes mal dispostos após uma longa sessão de jogo.

Quanto à música, esta é algo rara ao longo de toda a aventura, sendo dado maior destaque aos soberbos sons do ambiente envolvente, mas cada vez que é necessário que a música entre em acção, podem contar com composições épicas, recheadas de cânticos femininos pesados, que voltam a vincar mais uma vez a sensação de desespero e pressão que o jogo tanto faz passar.

Como já devem ter percebido, à partida, Dark Souls não é um jogo para todos, aliás, Dark Souls é um jogo que poucos vão realmente apreciar. A sua dificuldade extrema e o desafio que oferece consegue desmoralizar qualquer um demasiado depressa.
Porém, os verdadeiros puristas de videojogos vão constatar que existe muito para ver e fazer emDark Souls e o seu conteúdo e jogabilidade acabam por estar muito bem consolidados, sendo uma das experiências mais sólidas deste ano no que toca a esforço/recompensa.


Resumindo, Dark Souls podia ser utilizado como uma forma de tortura para punir alguém. A sua dificuldade é digna de masoquistas e a paciência necessária para acompanhar a linha de aprendizagem constante é digna de um santo, mas a recompensa que oferece após cada obstáculo é sem dúvida o que faz com que queiram continuar a jogar. Não pensem neste jogo como diversão, mas sim como um desafio, e a vossa grande recompensa será poder dizer que o terminaram, embora tenham sofrido muito pelo caminho.





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